A promoção da mobilidade escolar sem recurso ao automóvel privado é uma iniciativa muito relevante no combate ao congestionamento viário nas nossas cidades e consequentemente para a redução dos Gases com Efeito de Estufa.
No nosso dia-a-dia todos sabemos a diferença entre os períodos de férias escolares e os períodos letivos no que respeita à facilidade de circulação nas cidades. Tal é um sintoma do cada vez maior peso que o carro familiar tem no transporte das crianças de e para as escolas. Não é de estranhar que em cidades de pequena e média dimensão, os arruamentos envolventes às escolas sejam em muitos casos os principais focos de congestionamento viário com carros parados em segunda fila e em cima dos passeios.
As notícias recorrentes sobre os atropelamentos urbanos, muitas vezes em passadeiras, criam medo e ansiedade nos pais quando ponderam o não uso do carro para deixar as crianças nas escolas. A imagem diária que observam na envolvente das escolas não atenua essa ansiedade.
Este é, assim, um problema que se alimenta a si próprio, quantos mais pais optarem pelo uso do veículo para transporte de crianças, menos segurança vão sentir os “resistentes” que cada vez mais se sentirão tentados a optar igualmente pelo carro.
No entanto, quando se questionam as crianças sobre a forma como gostariam de se transportar para a escola, sistematicamente a resposta é bicicleta, a pé ou transportes públicos pela simples razão que são opções muito mais divertidas e estimulantes que ser transportado no banco de trás do automóvel.
Apesar das dificuldades, esta realidade não é uma fatalidade e são vários os casos de sucesso de cidades em que se conseguiu mitigar ou reduzir o uso do carro privado para transportar as crianças para as escolas. O primeiro passo é ter noção que não existe uma solução milagrosa para resolver o problema. Cada família tem os seus valores, gostos e circunstâncias pelo que uma solução adequada a um agregado pode não o ser para outro. O sucesso passará sempre por um mix de soluções que contribuam para o mesmo objetivo.
Algumas medidas com sucesso comprovado são:
- Compromisso político dos decisores municipais com um ambiente de mobilidade multimodal, seguro e saudável. Independentemente das medidas setoriais ou pontuais que possam vir a ser implementadas, o sucesso irá depender do compromisso e empenho efetivo dos políticos. Os resultados não serão imediatos pelo que a paciência e persistência serão fundamentais.
- Investir na construção de ciclovias seguras e passeios adequados pode incentivar os alunos a caminhar ou andar de bicicleta para a escola. Essa infraestrutura também deve ser bem sinalizada e conectada a rotas diretas para as escolas.
- Disponibilização de bicicletas: os municípios podem disponibilizar gratuitamente bicicletas aos alunos para o seu uso pessoal desde que as mesmas sejam usadas nas deslocações para as escolas.
- Transporte público acessível: Melhorar a disponibilidade, fiabilidade e acessibilidade do transporte público é fundamental para incentivar os alunos a usá-lo como uma alternativa ao carro. Oferecer passes gratuitos ou com desconto para estudantes pode ser uma estratégia eficaz.
- Melhorar o ambiente urbano na envolvente das escolas: impedir a circulação automóvel junto às entradas das escolas (ou mudar os acessos para arruamentos pedonais) é uma medida muito eficaz para aumentar a segurança efetiva das crianças e a tranquilidade das famílias.
- Programas de incentivo: Implementar programas de incentivo, como competições amigáveis entre escolas para ver quem consegue a maior percentagem de alunos que não usam o carro, pode criar uma consciência comunitária e aumentar a adesão dos alunos.
- Carpooling: Incentivar a partilha de carros entre famílias que têm percursos similares para a escola pode reduzir a quantidade de carros nas ruas e, ao mesmo tempo, criar uma rede de apoio entre os pais.
- Percursos pedonais seguros: Garantir que os percursos a pé para a escola sejam seguros, com travessias bem sinalizadas e locais para atravessar com segurança, é fundamental para encorajar os pais a permitirem que seus filhos caminhem para a escola.
- Envolver os pais nas discussões e na tomada de decisões sobre medidas para promover o não uso do automóvel nas viagens escolares é muito importante. Eles desempenham um papel fundamental na formação dos hábitos de transporte das crianças.
- Contribuir para a criação de Grupos de Pedibus e Comboios de Bicicletas. Estas são medidas, preferencialmente, organizadas pelas famílias em que as crianças são acompanhadas por adultos nas suas deslocações a pé ou de bicicleta para a escola. Permite o não uso do carro de uma forma controlada que funciona como transição para a total autonomia.
- Campanhas de consciencialização: Desenvolver campanhas de consciencialização sobre a segurança das deslocações e os impactes ambientais do uso excessivo de carros e os benefícios do transporte sustentável pode sensibilizar os alunos e suas famílias para adotarem práticas mais sustentáveis.
- Monitorização e avaliação: Realizar monitorização regular para avaliar o impacte das iniciativas implementadas é essencial para determinar sua eficácia e fazer ajustes quando necessário.
- Celebrar o sucesso: Reconhecer e recompensar escolas e alunos que adotam práticas sustentáveis de transporte pode criar um ambiente positivo e motivador para toda a comunidade escolar.
A combinação de várias dessas boas práticas pode resultar num esforço mais eficaz para promover o não uso do automóvel nas viagens dos alunos para as escolas, melhorando assim a sustentabilidade e a qualidade de vida nas nossas cidades.
Várias destas medidas poderão ser relevantes para lá do que é a mobilidade escolar e ser benéficas para a população como um todo. Neste sentido poderá ser ponderada a sua implementação no âmbito de um plano de mobilidade urbana sustentável que enquadre toda a política de mobilidade do município e que reflita o compromisso político indicado no primeiro ponto.
Foto: byronv2