A explosão das bicicletas partilhadas sem docas

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Luís Caetano

Foto: Jon Russell / Flickr

Durante a última década, os sistemas de bicicletas partilhadas tornaram-se presença familiar em muitas cidades em todo o mundo, com mais de 1000 cidades a disponibilizarem, pelo menos,um sistema de bicicletas públicas.

Os executivos municipais incorporaram as bicicletas partilhadas nos planos de mobilidade e de sustentabilidade como uma opção inovadora e de baixo custo para a mobilidade dos seus residentes.

Cada vez mais cidades compreendem os benefícios de integrar esta solução fiável, conveniente, segura, e acessível no seu portfólio de opções de mobilidade.

Qual a novidade das bicicletas partilhadas sem docas?

No último par de anos uma nova abordagem tem surgido relativamente aos sistemas de bikeshare: os sistemas sem docas.

Enquanto os sistemas com estações e docas, como as Gira de Lisboa, existem há já vários anos em toda a Europa, o seu financiamento sempre dependeu de um forte financiamento público.

Pelo contrário, os sistemas sem docas nem estações, subsistem graças ao investimento de companhias de capital de risco e ao pagamento de pequenos montantes por cada utilização.

Uma vez que não dependem de financiamento público, as empresas que promovem os sistemas sem docas são, muitas vezes, mais ágeis a entrar no mercado, evitando os longos processos de contratação pública associados aos sistemas tradicionais.

Os atuais sistemas de bicicletas partilhadas sem docas (dockless bikeshare, na designação em inglês) nasceu em 2014 quando cinco estudantes da Universidade de Pequim fundaram a ofo, uma empresa de bikeshare cujo objetivo era servir as necessidades de mobilidade no interior do campus da universidade.

No início de 2016, à medida que a economia de partilha, as redes móveis de alta velocidade e a tecnologia dos smartphones ganhava popularidade, esta nova abordagem às bicicletas partilhadas explodiu na China.

Comparativamente com os sistemas de estações fixas, os sistemas sem docas permitem que o utilizador deixe a bicicleta no local que mais lhe convier para completar a sua viagem. Uma vez que não existem estações nem docas, as bicicletas são equipadas com um cadeado incorporado.

Os utilizadores têm que instalar a aplicação da empresa a qual os direciona para a bicicleta mais próxima que pode ser desbloqueada através da leitura de um QR code. Outra forma de desbloqueio pode ser através de um código fornecido via SMS

Uma explosão de bicicletas

Em outubro de 2017, havia mais de 70 companhias a explorar sistemas de bicicletas partilhadas sem docas na China, operando mais de 16 milhões de bicicletas.

Cerca de um terço destas bicicletas encontravam-se em apenas três cidades: Pequim (2,4 milhões), Xangai (1,5 milhões) e Chendgu (1,2 milhões) sendo que todas elas têm sistemas tradicionais em operação.

Frequentemente, todas as bicicletas foram espalhadas por estas cidades numa questão de meses.

Os dois operadores mais importantes de bicicletas sem docas são a ofo e a Mobike. Juntos operam mais de 14 milhões de bicicletas em 165 cidades chinesas. Os clientes destas empresas realizam, em média, mais de 60 milhões de viagens por ano.

De acordo com os dados mais recentes, começa a sentir-se algum impacto na evolução da repartição modal nas cidades chinesas. Pela primeira vez, no primeiro trimestre de 2017 assistiu-se a uma redução da quota do transporte individual motorizado na realização de viagens inferiores a 5 km.

Dados recolhidos pelo operador Mobike, indiciam também que, após a introdução dos sistemas de bicicletas partilhadas sem docas, a utilização de bicicletas privadas, propriedade dos utilizadores, aumentou também.

Por outro lado, dados recolhidos pelo ITDP indiciam também alguma transferência do modo pedonal para estes novos sistemas de partilha de bicicletas.

Os grandes operadores de bicicletas partilhadas sem docas tiveram muitas dificuldades para expandirem a sua operação para fora da China. Inicialmente, as cidades com receio dos cemitérios de bicicletas e do vandalismo associado, emitiram diversas notificações para forçar as empresas a retirar as bicicletas que, massivamente, iam depositando nas cidades.

Recentemente, tem havido maior abertura para conversações, sendo estabelecidas condições para que estas empresas possam operar. Em Portugal a ofo começou a operar em Cascais, onde já existe um sistema de bikesharing tradicional.

Em Cascais, a Ofo está disponível com 50 bicicletas sem assistência elétrica e sem caixa de velocidades. Para utilizar o serviço, é necessário descarregar a app para iOS e Android.

Ao abrir a aplicação, é apresentado um mapa da vila com as bicicletas disponíveis. Depois de carregar no botão para desbloquear, o utilizador tem de introduzir o número da bicicleta ou então ler o código QR exibido por cima da roda traseira.

A seguir, a aplicação dá o número para desbloquear o cadeado da bicicleta. A partir daí, pode utilizá-la e deixá-la onde quiser. O pagamento é feito através do cartão de crédito.

Cada meia hora de utilização custa um euro mas os clientes também podem obter créditos. Mas a Ofo não quer ficar por aqui e já está a pensar em expandir a operação para outras cidades portuguesas.

Fonte: ITDP